[POESIA] Cinco poemas de Langston Hughes por Matheus Peleteiro

PROÊMIO

Eu sou um negro:
        Preto como a noite é preta,
        Preto como as profundezas da minha África.

Fui escravo:
        César me disse para manter os degraus da sua porta
        limpos.
        Engraxei as botas de Washington.

Fui operário:
        Pelas minhas mãos surgiram as pirâmides.
        Fiz a argamassa do Edifício Woolworth.

Fui cantor:
        Durante todo o caminho da África para a Geórgia
        Carreguei minhas canções de lamento.
        Eu criei o ragtime.

Fui vítima:
        Os belgas cortaram minhas mãos no Congo.
        Eles me lincham agora no Texas.

Eu sou um negro:
        Preto como a noite é preta,
        Preto como as profundezas da minha África.

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O NEGRO FALA SOBRE RIOS
(Para W. E. B. DuBois)

Conheci rios:
Conheci rios tão antigos quanto o mundo e mais velhos que o fluxo de sangue humano
em veias humanas.

Minha alma se tornou profunda como os rios.

Banhei-me no Eufrates quando o nascer do sol principiava.
Construí minha cabana junto ao Congo e isso embalou meu sono.
Olhei para o Nilo e por cima dele levantei pirâmides.
Ouvi o canto do Mississippi quando Abraham Lincoln desceu até New Orleans e vi seu seio lamacento tornar-se dourado ao pôr-do-sol.

Conheci rios:
Rios antigos e crepusculares.

Minha alma se tornou profunda como os rios.

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O BOBO DA CORTE

Com uma mão
Eu seguro a tragédia
E com a outra
A comédia, —
Máscaras para a alma.
Ria comigo.
Você deveria rir!
Chore comigo.
Você deveria chorar!
As lágrimas são a minha risada.
O riso é a minha dor.
Chore pela minha boca sorridente,
Se você quiser.
Ria do reinado do meu lamento.
Eu sou o Bobo da Corte Negro,
O palhaço mudo do mundo,
O servo útil e bobo de homens neandertais.
Uma vez eu fui sábio.
Devo ser sábio uma vez mais?

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MELHOR

Melhor em uma noite solitária
Sentar e chorar desacompanhado
Do que descansar minha cabeça em outro ombro
Depois que você tiver me deixado.

Melhor, em um dia brilhante,
Barulhento e com o mais lindo dos sóis,
Não escutar nenhuma música
Do que ouvir outra voz.

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EPILOGO

Eu, também, canto América.

Eu sou o irmão mais escuro.
Eles me mandam comer na cozinha
Quando a visita chega,
Mas eu rio,
E como bem,
E fico mais forte.

Amanhã,
Vou me sentar à mesa
Quando a visita chegar.
Ninguém ousará,
Então,
Dizer para mim,
“Coma na cozinha”.

Além do mais,
Eles perceberão o quão bonito sou
E sentirão vergonha,—

Eu, também, sou a América.

Traduções de Matheus Peleteiro.


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